Depoimento – José Ignácio Sequeira de Almeida

José Ignácio Sequeira de Almeida
Ex-Diretor-Presidente da EMTU/SP
Presidente da ABJICA de 1992 a 1994

Em 1987 eu trabalhava na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e passei 20 dias no Japão como bolsista da JICA, em um programa de Life and Living Environment. Fiquei hospedado no dormitório da JICA em Tóquio e fiz visitas em Nagoya, Kyoto, Osaka, e conheci também Yokohama. Antes disso, já tinha ido ao Japão pelo Ministério das Relações Exteriores daquele país, em uma visita protocolar de 10 dias.
Mas meu relacionamento com a ABJICA começou antes de ela existir. Explico: minha esposa foi ao Japão como bolsista em 1983. Em função da relação que ela tinha com um grupo de bolsistas daquele ano, eu acabei também me envolvendo. A Hiro Lia Okayama, já falecida, foi uma grande incentivadora da criação de associações de bolsistas. A partir daquele
grupo, foi se concretizando o sonho da Hiro Lia. E foi criada a associação. Esse começo foi no tempo em que a JICA ficava no Bunkyo. O primeiro presidente da associação foi o Alberto Tomita. Houve uma reunião muito bonita no Buffet Colonial.
Meu período como presidente foi de 1992 a 1994. Acabei sendo o primeiro presidente “gaijin”, não descendente. E como “gaijin”, eu tinha uma responsabilidade muito grande ao assumir a presidência. Mas era preocupação da Hiro Lia de que houvesse essa mudança. Como presidente, foi para mim uma experiência pessoal única conduzir uma organização relacionada com cooperação em nível internacional, e uma forma de retribuir a aquisição de conhecimento que a bolsa proporciona.
Um trabalho que movimentou muito a associação e os membros foi o Primeiro Encontro Internacional de Bolsistas, com participação da Nicarágua, Colômbia e outros países latino-americanos, além das sete associações de bolsistas que existiam na época no Brasil. O encontro aconteceu no Hotel Nikkey, aqui em São Paulo. Na minha gestão, fizemos os preparativos, e o encontro mesmo se realizou no período posterior, quando o presidente era o Seigo Tsuzuki. E esse encontro foi muito produtivo, estimulou muito as pessoas a participar da associação. Na verdade, sempre participei da associação, mas o encontro foi o que mais me marcou e me fez participar mais. Para organizar esse encontro e outras atividades, fazíamos reuniões normais e também reuniões só com os membros da diretoria. O que me estimulou foi a dificuldade de achar e contatar pessoas, e as pessoas vieram participar do encontro: pessoas de Brasília, do Nordeste, Santa Catarina, Rio de Janeiro e outros lugares, das sete associações do Brasil inteiro. Também destaco a presença do Hirokazu Sasaki, que foi um grande apoiador naquele tempo, e assim foi até deixar a JICA. Foi uma mão forte para a associação. Me lembro também da Kato-san que conversava, estimulava, fazia de tudo. Com relação aos membros da ABJICA, sempre foi muito variada a especialidade deles, e isso sempre foi muito bom, pois as pessoas que convivem na associação acabam se envolvendo em outras áreas diferentes da sua. Enquanto bolsista, você vai para o curso com seu foco, mas na associação, conhece pessoas de outras áreas e isso amplia sua visão. E São Paulo tem isso de riqueza. Participar é doar, quando talvez, na verdade, se ganhe mais do que se doe.

Como associação de ex-bolsistas, ainda lembrando a experiência do Encontro que realizamos, a ABJICA deveria procurar ampliar a relação com as outras associações de bolsistas. Por exemplo, de Recife há muitas pessoas que foram ao Japão.

Além disso, a ABJICA deveria estimular a participação das pessoas que voltam do Japão e procurar o envolvimento dos que vão. Em São Paulo, é importante que a associação procure o contato com as empresas que enviaram muitos funcionários ao Japão. A Cetesb, Instituto Florestal, Metrô, CPTM, CDHU têm vários profissionais que foram bolsistas. Tem que haver mais envolvimento das pessoas antes de ir, para que, quando voltarem, participem das atividades da associação.
Também é importante procurar parcerias com essas empresas que enviam seus funcionários, buscando a visibilidade. E os que voltam poderiam divulgar o que viram. É importante também buscar patrocínio, visando o marketing, com empresas japonesas ou subsidiárias. Se há peritos da JICA enviados ao Brasil, é importante aproveitar a vinda deles para palestras. Com a vinda de peritos, ao prestigiar o trabalho deles, acabamos ganhando na aproximação Japão-Brasil, no desenvolvimento humano, uma vez que a JICA não tem visão de lucro, mas de conhecimento técnico, humano.ABJICA Os desafios superados ao longo desses 30 anos mostraram o valor da união e do voluntariado de tantos bolsistas brasileiros, que souberam reconhecer o privilégio de integrar o grupo de participantes do Acordo Internacional de Cooperação entre o Japão e o Brasil. Privilégio, porque agrega profissionais imbuídos do espírito de aglutinar valores e ideais, em prol do conhecimento e do aprimoramento técnico. Privilégio, porque propicia contato com peculiaridades culturais, distintas e enriquecedoras. Privilégio, porque valoriza a vivência interativa com entidades e especialistas, igualmente dedicados a esses objetivos. Privilégio, porque aproxima sociedades, na perspectiva do entendimento e da paz mundial.

Privilégio, porque abre oportunidades para retribuir a experiência, cultivando novas amizades em convívio sadio e estimulante, proporcionado pelas atividades da ABJICA.

Somando a todos esses privilégios, pessoalmente, fui agraciado com a honrosa responsabilidade de exercer a Presidência da ABJICA, tarefa facilitada pelo incondicional apoio e dedicação dos diretores, conselheiros e bolsistas no exercício do mandato. Novos bolsistas prosseguem o trabalho e, com dedicação e entusiasmo, retribuem os privilégios com que foram agraciados, contribuindo para a mútua cooperação entre Brasil e Japão. A eles, nosso estímulo e reconhecimento.