Depoimento – Maria Luiza Costa Pascale

Curso electronic data processing for government information activities
Período janeiro a março de 1990

Tecnologia da Informação e Comunicação, Informática ou apenas Processamento de Dados? Nos anos 1990 não se falava em Governo Eletrônico. O curso oferecido pela JICA era sobre Electronic Data Processing for Government Information Activities.

Mas não importa o nome. Já se fazia muito com a tecnologia disponível. Como que num sonho, recebi a notícia informando que eu havia sido selecionada para o curso. E quando desliguei não tinha mais certeza do que havia sido dito pela funcionária da JICA. Tive que ligar de volta para confirmar se era mesmo verdade.

Depois disso, entrevistas com o nosso estimado Sasaki-san na JICA e a saudosa Hiro Lia no Consulado do Japão, que cuidavam para que tudo fosse impecável na participação dos bolsistas brasileiros. O Japão, além de ser um ideal quase impossível para nós, brasileiros, já que fica literalmente “do outro lado do mundo”, representava também o sonho de viver a ficção científica na prática. Para os participantes do curso, vindos de países em desenvolvimento, o que foi mostrado superava em muito a nossa capacidade de compreensão.

O país, sempre à frente em termos de tecnologia, nos acolheu de forma amorosa, apresentando, com humildade e total paciência para com nosso desconhecimento e assombro, os avanços obtidos – telefones com vídeo, reconhecimento de imagem e voz, tradução automática de frases inteiras do japonês para o inglês, alemão e espanhol, robôs capazes de manter uma conversa coerente com os visitantes do Tsukuba Center ou ainda de segurar um ovo sem quebrar, TVs com telas planas e toda uma parafernália tecnológica miniaturizada para resolver o problema de espaço das casas japonesas.

Hoje isso parece trivial, mas estávamos então em 1990, praticamente 25 anos atrás, e essas coisas já faziam parte da realidade japonesa. Ao lado das maravilhas tecnológicas e futuristas e da modernidade dos bairros de Akihabara, Harajuku, Shinjuku e Ginza, vivemos também a cultura milenar do respeito, silêncio e sobriedade dos japoneses, e a sofisticada simplicidade de sua arquitetura, dos seus templos, das cerimônias de chá, da cultura dos samurais e do zen-budismo, da arte tradicional dos ikebanas, dos origamis e do sumiê, do teatro Nô e Kabuki, entre outras tradições. Uma lição para toda a vida!