Depoimento – Toshi-ichi Tachibana

Toshi -ichi Tachibana
Presidente da Abjica de 1996 a 2002 e de 2006 a 2010

A ABJICA nasceu na minha sala no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). No início, as reuniões eram feitas lá. Um tempo depois, a JICA ofereceu espaço em seu escritório e as reuniões passaram a ser realizadas nesse espaço, que na época, ficava na Rua São Joaquim, no Bairro da Liberdade, e depois, na Avenida Paulista. Durante todo o tempo, mandei muitas e muitas pessoas para o Japão.

Estive lá antes de o programa de bolsas começar, para ativá-lo. Eu tinha que ir às instituições japonesas para informar e explicar como era a bolsa, para que as instituições aceitassem os bolsistas. Mas essa tarefa foi fácil porque, quando se fala da JICA no Japão, ninguém diz não. Tempos depois, também fui à JICA no Japão para explicar sobre a importância da bolsa, para que ela não fosse extinta.

Especificamente sobre a bolsa para nikkeis, comecei a fazer o movimento para ativá-la porque isso seria importante para o desenvolvimento do Brasil. A Associação dos Bolsistas da JICA em São Paulo é a única associação que congrega somente bolsistas da JICA, enquanto as outras associações de bolsistas da JICA, em outros lugares, reúnem bolsistas também de outros órgãos, como por exemplo os das associações de províncias japonesas, do Monbukagakusho (Ministério da Educação Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia do Japão), do Gaimusho (Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão).

Sempre fui atuante na ABJICA, mesmo quando não era presidente da associação. Sempre que vinha algum perito japonês ao Brasil, em algum projeto de cooperação, fazíamos um seminário com o tema em questão, procurando a contraparte brasileira. Assim, a associação era bem ativa. Além disso, a JICA tinha mais recursos. Acho que, como a JICA tinha recursos e precisava fazer divulgação de suas atividades, deixava que a associação fizesse seminários. O que mais a ABJICA fazia era esse seminário com os peritos. Era o nosso maior trunfo.

Não interessava se o projeto em que o perito atuava era em outro estado. Se ficávamos sabendo de um projeto e da vinda de um perito, chamávamos, mesmo que lá houvesse uma outra associação de bolsistas. Era um seminário por mês. E aproveitávamos para fazer propaganda dos cursos oferecidos pela JICA. Fazíamos muita propaganda. Pois acho que a associação tem que ajudar a divulgar os cursos. A única forma de aumentar o número de candidatos às bolsas é fazer a divulgação. Para esses seminários, eu pedia verba dos projetos em andamento e as coisas eram preparadas. No fundo, o que ajuda são as verbas da JICA. Na América Latina, a ABJICA em São Paulo era a mais ativa das associações, a associação com mais realizações, e deve ser ainda hoje. E começamos a “exportar” os eventos que realizávamos.

Em Santa Catarina, por exemplo, estava em desenvolvimento o projeto das maçãs. Então por que não fazer um seminário? Essa foi a maneira de ajudar outras associações. A primeira reunião das associações de bolsistas da América Latina e do Caribe fomos nós que organizamos. Foi algo bem simples. Já a segunda reunião a JICA aprovou e apoiou. Em seguida, houve outras, na Argentina e na Venezuela também. Também promovíamos a apresentação dos projetos da JICA em andamento, e visitávamos esses projetos. Um dos projetos visitados foi em Curitiba. Nas visitas, levávamos os peritos japoneses e até mesmo os técnicos brasileiros envolvidos nos projetos. Era uma forma de dar oportunidade para eles conhecerem outros lugares e também uma maneira de divulgar os trabalhos da JICA. Além disso, era uma forma de integrar os próprios pesquisadores e membros das várias associações. Assim, promovia-se a integração das associações. Fomos visitar vários projetos, como o Projeto Koban (da Polícia Militar do Estado de São Paulo).

Estivemos no Koban (Base Comunitária de Segurança) do Bairro do Belém e do Jardim Ranieri, aqui na cidade de São Paulo. Uns anos depois, este projeto foi exportado para a Guatemala e outros países da América Central. Ajudei a JICA na questão da feasibility (viabilidade), visitando países da América Central e a JICA no Japão, para falar sobre isso. Também para que se iniciasse o TCTP (Third Country Training Program – Programa de Treinamento para Terceiros Países) na África, a JICA me enviou duas vezes à JICA no Japão, e também à Angola e Moçambique. Não fui porque era o presidente da ABJICA, mas porque era um dos mais antigos.

Visitei a América Latina inteira, como parte da missão da JICA, para viabilizar projetos para os países, e as pessoas estavam com inteira disposição para fazer o TCTP. Outra realização da ABJICA que podemos citar é o catálogo que fizemos de seus membros, onde constam seus dados, endereços e contatos. Sobre o futuro, é muito complicado.

Não se pode deixar a ABJICA morrer. E a única forma de não deixar que ela morra é participar de projetos. Se não houver projetos, os bolsistas não participam. E para isso, é importante ter muitos contatos. Eu tinha com o Corpo de Bombeiros, com a Polícia Militar e outras instituições. Como fazíamos aqueles seminários, era muito fácil executar o que era planejado. Cheguei até a escrever projeto para alguns. São Paulo é onde se concentra mais instituições. Sempre houve mais projetos em São Paulo. Mas é preciso incentivar esses projetos em outros lugares. Eu sempre me esforcei para isso. Na minha época na diretoria do IPT, havia muito intercâmbio, mas ainda não havia projeto sendo desenvolvido com a JICA. Hoje, em números absolutos, o IPT não tem muitos ex-bolsistas, mas em projetos executados, é um dos melhores, e com maior diversidade de projetos.

Participei de praticamente todos os projetos executados pelo IPT. Também eu visitava outras associações e incentivava o desenvolvimento de projetos conjuntos. Eu falava para as pessoas: “por que vocês não desenvolvem um projeto?” Por meio de intercâmbio entre instituições, um pode resolver o problema do outro. Por exemplo, um laboratório em Recife era construído em madeira, que estava com cupim. Ao visitá-lo, propus que o IPT resolvesse o problema, pois é a instituição que possui maior experiência sobre o assunto no Brasil.